Cento e vinte horas na Bienal do livro

Foram dez dias de Bienal na última semana, doze horas de jornada, cento e vinte horas no total. Tudo que consigo escrever neste momento diz respeito ao evento, que vinha acontecendo desde o dia 9 de agosto em São Paulo.

Me surpreendi com a multidão que invadiu o Anhembi nestes últimos dias. Parecia entrada de Skol Beats, micaretas do Estância Alto da Serra e afins. Pessoas na bilheteria no primeiro horário dos seus dias de descanso, enfrentando sono, horas de fila sob o sol, crianças a tiracolo, tudo para conseguir comprar ingresso, entrar e adquirir… LIVROS!

Não imaginei que tanta gente encararia tumulto, espera e fadiga para adquirir “somente” cultura. Puro preconceito.

Que clima incrível e que magia tem a aquilo lá. Por todos os lados, pessoas interessantes (e interessadas) e livros, autores, editoras de toda a sorte.

Fiz amigos.

Com a moça do açaí, que estava com uma cara terrível por ter que ficar doze horas de pé do lado do carrinho e por não se conformar com o preço do produto que estava vendendo.

Com o pessoal da Editora 34, que me deu um descontão no “Meio Intelectual, Meio de Esquerda” do Antônio Prata e viraram amigos de feira e de alongamento (o nervo ciático pedia).

Com a Gabi, do marketing da Aliança Francesa que não aguentava mais tanta gente pedindo brindes pra ela: canetinhas, sacolas, lapiseiras, panfletos. Caramba, por que as pessoas gostam tanto de ganhar QUALQUER coisa?

Com professores, jornalistas, editores, faxineiras. Um tropeço no Ziraldo, um tchauzinho breve pro Mauricio de Sousa, uma piscadela pro Zeca Baleiro que declamava poesias no estande ao lado.

Mas também fiquei revoltada – um sanduichinho natural com aquelas pastas de frango péssimas: 13 reais; um açaí pequeno sem granola: 10 reais; restaurante exclusivo para as pessoas que trabalhavam na feira: 33 reais o prato.

Porém, nunca mais reclamo nesta vida por ter que trabalhar de segunda a sexta, num horário até que decente. Trabalhar por mais de doze horas e aos finais de semana é uma violência. Pela primeira vez na vida, chorei de cansaço. Nada como vivenciar o outro lado da moeda pra saber valorizar o que temos e pensar bem antes de reclamar tanto das coisas. Bem cliché, mas nunca caiu tão bem.

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