Como o dia dos pais está aí, senti vontade de falar sobre a minha mãe.
Fugir do clichê é uma preocupação – o tema já vem cheio de tantos lugares comuns que é difícil me desviar de um clichê ou outro. Ser brega também me causa inquietação. Pode ser que o texto dê umas derrapadas mas não é o foco me declamar para a mamãe.
Nesta semana ela fez anos de vida. Comemorou o aniversário correndo atrás de médico, se empenhando para conseguir um encaixe, me acompanhando nas consultas, cuidando, comprando remédio, tirando a temperatura, fazendo sopa, se doando, mais uma vez, com a atenção toda voltada pra mim, no alto dos meus 32 aninhos. Com o maior sorriso no rosto.
Nesta noite, do aniversário dela, quando coloquei a cabeça no travesseiro, por um instante me dei conta – como se isto não estivesse o tempo todo ao alcance da minha percepção -, de como é ela a grande responsável por muito daquilo a que dou os créditos à experiências diversas e aptidões internas e pessoais.
Ela sedimentou a base, preparou todo o terreno, para que eu pudesse fazer as minhas escolhas, partir para longe, escolher o mais ousado, lutar pelo incerto, largar o confortável, acreditar que tudo iria ficar bem, encarar o dissabor e a mim mesma. Afinal de contas, ela sempre está lá.
E simplesmente não tem como deixar de reconhecer, talvez um pouco tardiamente, que essa é a diferença.
De uma forma meio que mágica, na noite em que coloquei a cabeça no travesseiro, é que percebi que somente com toda essa enxurrada de amor e segurança (sem desvalorizar o contra peso dado por referências menos maternais e mais realistas) que pude ter condições de ser quem eu quisesse ser.
Desconsiderando os excessos de eventuais (e justas) melindradas, reconheço que não há nada mais poderoso para um individuo desenvolver segurança, valores e confiança, que ter ao lado um outro indivíduo que desempenhe este papel, que nos faça ter este contato, este tipo de experiência, com algo maior, com esse amor sólido, puro, genuíno.
Feliz aniversário.
