Mamãe, quero ser hipster.

Há pouco mais de um ano, uma agência descoladinha de publicidade se mudou ali pra perto da minha casa.

A rua perpendicular, que dá pro metrô Sumaré, outrora meio intelectual, meio de esquerda, agora tem também uma atmosfera indie. Na boca do metrô, lá pelas 9, 10 horas da manhã, muitos looks Lollapalooza, sendo possível identificar uma certa tendência ao over indie, o que dá uma impressão de looks não muito inventivos, e originalidade é o grito para este nicho.

Ainda assim, eles genuinamente me agradam e me inspiram com seus ares mais bagunçados e seus projetos descolados, em meio a avalanche de chapinhas loiras + culto à marca ostensiva que nos acometeu nas últimas décadas.

Esse pessoal que eu imagino ser da agência é normalmente um povo feliz, que usa batom vermelho; uns mais blasés, verdade; as meninas de vestido e bota (faça frio, faça sol, neve, ou esteja 35 graus), os meninos de xadrez e fonões on ear tocando Two Door Cinema Club.

Hoje vi um tipo interessante no caminho de casa até o metrô. Moço esguio, magro, muito provavelmente indo em direção à agência. Camiseta amassada branca, all star, cabelo todo despenteado, de wayfarer preto e várias tatuagens no antebraço.

Aí ele parou em frente a um carro. Observei – gosto de tipos como ele, ‘acordei-e-fui’. Aí ele começou a se olhar e se analisar em frente ao seu reflexo no automóvel. Achei curioso. ‘Será que eu estou parecendo descolado?’ Mas ele não deveria ser desencanado quanto à sua imagem? Não é essa a atitude que está por trás da camiseta sem passar, do cabelo todo desalinhado, do ar desencanadão?

Será que ele acordou 1 hora e meia antes de sair pro trampo para bagunçar milimetricamente seus cabelos e dar tempo de dar uma amassadinha na camiseta branca da Hering?

Acho que não se fazem mais hipsters como antigamente.

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