Ciclovias sim

Ao que tudo indica, não sou nenhuma abraça-árvore, como ouvi dias desses de alguém que tentava desqualificar o interlocutor para fazer um ponto na discussão. Mesmo não sendo abraça-árvore (nem nada muito próximo a essa qualificação), sou uma entusiasta das novas políticas públicas encabeçadas pelo Sr. Prefeito Fernando Haddad de implementar ciclovias e ciclofaixas cidade afora.

E digo isso mais porque acredito que convivência e respeito são ingredientes de uma cidade mais humana e evoluída. O meu entusiasmo tem mais a ver com esses ingredientes (em escassez por aqui), do que com a solução para a mobilidade propriamente dita.

Talvez as recém instaladas ciclovias estejam mesmo atrapalhando muitos pontos comerciais ou tenham sido metidas goela abaixo na população (se dependêssemos de plebiscito para implementá-las, nem precisaria dizer que elas jamais estariam aí, certo?).

É natural – ou, ao menos, não é de outro mundo – que políticas públicas precisem de retoques ou adaptações, ainda mais em se tratando daquelas que trazem o novo e impactam a rotina já há tempos estabelecida e “estruturada” do paulistano.

É igualmente natural que políticas que obrigam pessoas a readaptar a dinâmica do dia-a-dia ou mesmo a repensar alguns valores enraizados (ainda mais em se tratando do tema carro) tragam mesmo toda essa irresignação.

Mas a minha simpatia com relação a elas é justamente essa – elas forçam a mudança no consagrado modos operandi da cidade e das pessoas.

Elas metem goela abaixo da população a necessidade de se prestar mais atenção ao redor, se ter mais cautela e respeito no trevoso trânsito de São Paulo. Repartir o espaço tem esse efeito.

Metem goela abaixo o imperativo de se discutir o uso que se faz do espaço público. Metem goela abaixo a imprescindibilidade de se saber conviver com o que não é familiar e entender que não existe soberania nesse tal de convívio social.

Mas esses efeitos não são visualizados, nem contabilizados, tampouco valorizados pela maioria das pessoas, que prefere não partir para esse lado mais ‘abraça-árvore’ do assunto.

Querem mudanças crassas na cidade, mas de preferência que essas mudanças aconteçam sem se ter que mudar muita coisa.

Dividir, conviver, experimentar, se misturar. Não, deixo pra fazer todas essas coisas quando tirar férias na Europa. São Paulo não tem vocação pra ser Europa, não é plana.

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