Contos diários no ônibus rumo à Vila Leopoldina

Dia 1.

– Bom dia.
Bom dia do lado dele (e um sorriso).
– (percebendo a abertura) O Sr. passa ali perto da Rua Bauman?
– (voltando-se para o cobrador) Ô Cleber, passa perto dessa Bauman? Esse cobrador sabe tudo, moça. É um ‘XPS’…
– …
– Pague lá pra ele e volte aqui que você desce pela frente.
– Ok, obrigada! Esse ônibus passa com qual frequência?
– (hesitando) Ah, pra chegar lá na Bauman, quanto tempo leva?
– Não, tipo, esse ônibus passa de quanto em quanto tempo?
– Hum, ele passa com frequência sim. É só aguardar que ele passa, fica tranquila.
– Beleza, muito obrigada (já bastante satisfeita de ter batido um papo alegre com o motorista)

Dia 2, dia da greve do metrô.

– Boa noite.
– Boa noite, não tenho troco (olhando pra minha nota de dez reais). Aguarde aí que daqui a pouco arranjo. Onde você pára? No metrô?
– Não, um pouco além do metrô, na Heitor Penteado mesmo.
– Então tá tranquilo, moça. Sente e aguarde.
– Obrigada (me acomodando na frente dele).
– Será que churrasco de gente é bom? (me olhando sem qualquer sinal de que estaria brincando).
– (hesitante) Deve ser muito bom!

(Em instantes chegou o troco e voei pro fundo do veículo)

Dia 3, sexta-feira chuvosa.

(acomodação no fundo do ônibus – queda do meu guarda-chuva em um moço que se preparava para descer no próximo ponto).
– Me desculpe!
– Nada, imagina, moça (sorriso)… Xi, me confundi, não era aqui que eu tinha que descer não! Achei que já estava no Pão de Açúcar da Cerro Corá.
(sorriso)
– (sentando dois assentos do meu lado esquerdo) Olha, se não fosse você e o seu guarda-chuva eu teria descido no lugar errado. Tava brisando e achei que já tinha chegado ali na Cerro Corá, no ponto onde eu desço. É o cansaço do serviço.
– (me sentindo bem pelo feito e identificada com o momento de leseira alheio) Que bom então, ajudei você.
– Sim, olha, foi de Deus. Pois eu saí hoje de manhã de casa achando que não ia chover e não levei o guarda-chuva. Aí você deixa o guarda-chuva cair bem em mim agora. Só pode ser de Deus (falando com propriedade de alguém com fé).
– Poxa, e bem hoje que caiu um toró, hein?
– É sim. Quero chegar em casa logo, sabe, meu chuveiro tá sem água quente e eu tô doido pra chegar pra consertar. Tenho tomado banho na casa da vizinha e no trabalho. Eu moro ali naqueles predinhos da Cerro Corá, sabe?
– Hum, sei não. Tem muitos prédios na região, né?
– (sinal de concordância) É sim. Tchau moça.
– Tchau, bom final de semana.

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