Um dia difícil para a vida

Hoje eu acordei com uma notícia triste, a morte da minha tia, irmã mais velha do meu pai, 79 anos.

No velório ao lado, uma menina de 35 anos, que tinha descoberto havia 15 dias um tumor na cabeça.

Para dar uma animada no clima, falamos sobre uma das notícias mais deprimentes da semana: o atropelamento do ciclista, seguido da tentativa de ocultação de um dos seus membros superiores, por um menino que dirigia bêbado depois de sair da balada. No meio do velório, meu primo, leitor do blog e companheiro de festas indies, me perguntou se iria escrever algo sobre isso.

No meio daquela tristeza, entre uma tia querida já de certa idade acometida por uma doença fatal, e daquela menina que tinha quase a minha idade, vítima também por uma doença fatal, nada é mais triste e subversivo do que saber da história de um menino de 22 anos que pega o carro depois da balada e depois de ter consumido “alguma vodca”, que sai em alta velocidade pela Avenida Paulista, acerta um ciclista, omite socorro, percebe um membro da vitima em seu carro e se desfaz dele no primeiro córrego que vê pela frente.

Tirando a parte da fraude processual (nome técnico-bonito para “jogar o braço da vítima no córrego”), não é surpresa que uma pessoa se encontrava embriagada na madrugada acelerando seu possante com tudo pela cidade.

Ontem durante uma festa ouvi uns amigos conversando sobre como haviam se safado da blitz policial algumas semanas atrás. Estavam aliviados, orgulhosos da performance. A única preocupação era como se safar das blitz e não como se virar para não pegar o carro bêbado, encontrar alternativas, fazer um esforcinho, pegar um táxi.

O táxi é caro, não há transporte público na madrugada, a lei é muito rígida e a corrupção está a torto e a direito. Verdade. Mas existe uma realidade muito mais chata (e talvez um pouco mais incômoda) do que as mencionadas: bebida + direção mata pessoas. E se não aconteceu comigo ou com todas as outras pessoas que já tantas vezes pegaram e continuam pegando o carro depois de uma balada com duas, três, quatro, vinte e oito cervejas no organismo, foi só uma questão de sorte e oportunidade.

Total
1
Shares
Related Posts