A Amazônia é nossa

Talvez a questão já seja evidente para muitas pessoas, mas pra mim virou uma obviedade apenas agora, então eu resolvi falar sobre isso, depois de quase um ano morando no continente europeu e depois de ter começado a estagiar para o Governo brasileiro, numa missão diplomática para a união europeia.

E também vou logo confessando: tenho um pouco da síndrome do brasileiro inseguro.

Temos a tendência de achar que somos inferiores quando nos comparamos ao mundo Europeu – uma coisa é verdade, quando digo que sou brasileira na maioria das vezes testemunho reações positivas, acolhedoras, e muitas vezes me questionando o que me levou a sair de um paraíso para estar ali.

Mas o que acontece dentro da União Europeia como Instituição política é bem diferente dessas reações bacanas. Seus dirigentes sabem que os brasileiros são inseguros e jogam com isso, afinal, somos nós que “abrimos as pernas” quando italianos, franceses, alemães, suíços, norte-americanos desembarcam em nossas terras. Somos nós que tratamos como “irregulares” e não como “ilegais” os imigrantes em situação “irregular” no nosso país.

E, como não poderia deixar de ser, nos sentimos muito culpados, muito atrasados, muito envergonhados pela poluição, pelo desmatamento, pela destruição das fontes naturais existentes no nosso planeta…. correto?

Foi apenas aqui que eu me deparei com a parte real da história: os maiores impactos ambientais negativos que vivenciamos hoje em dia são consequências diretas da pesada revolução industrial protagonizada pelo continente europeu.

Na Europa, em TODA ela, hoje em dia, não existe mais que 10% de mata virgem. Todos os parques lindos que vemos (e pensamos, “ahh se fosse no Brasil não estaria assim tão bem preservado!”) são espécies plantadas.

Por aqui, praticamente, não existe mais ecossistema, bioma, biodiversidade. Já desmataram tudo. Mas agora, quem paga a conta somos nós, países de terceiro mundo, inseguros.

Quem tem que pagar essa conta não somos nós, mas de qualquer forma, temos feito a tarefa, a nossa parte, mesmo não tendo contribuído com os maiores males e impactos sofridos hoje pelo planeta.

O Brasil tem políticas de sustentabilidade excelentes e somos nós que temos que contribuir para o “know-how” europeu no que diz respeito à preservação do meio ambiente e não o contrário, como tendem a insistir, em todas as oportunidades que têm.

Prova disso é a nossa energia, 85% proveniente de fontes sustentáveis. Nossas tecnologias de exploração da energia renovável sendo modelo para o mundo todo. Prova disso, ainda, são as políticas contra o desmatamento na Amazônia. Ainda somos o país com a maior biodiversidade do planeta, crescemos econômica, social e sustentavelmente.

Por aqui realmente se faz muito pelo desenvolvimento sustentável, pela concepção do tal “green economy”. Essas são sem sombra de dúvida as palavras do momento na Europa. Mas isso não quer dizer que temos que nos sentir inferiores no que diz respeito à esses temas, longe disso.

Sei que é muita emoção quando falamos do nosso país. Sei que temos muito pela frente, mas temos que acabar com essa insegurança frente à Europa e reduzir esse sentimento de culpa que cultivamos por conta de questões ambientais. “Eles” já acabaram com as fontes naturais que tinham em todo o continente europeu e agora querem dizer ao Brasil o que tem que fazer com o seu território.

Eu ando meio brava com essa postura arrogante da União Europeia, tenho assistido a muitos debates e em todos eles a abordagem é semelhante. Querem dizer o que devemos fazer com o Brasil, mas estão aos poucos percebendo que a tarefa é árdua. E que somos gigantes, não só em tamanho.

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