Caipira em London

Eles dirigem do lado errado. Todo dia me surpreendo com alguém lendo o jornal enquanto dirige um caminhão a 40 kilometros por hora, até me dar conta que ele, no caso, é o passageiro.

Eles têm homens-manicure.

São irônicos. No metrô, não há placas dizendo pra você não correr, mas alertando que você não vai morrer se pegar o próximo trem.

A cidade dá a sensação de que se pode sofrer um ataque terrorista a qualquer momento. Jamais deixe seus pertences desacompanhados ou eles serão destruídos.

Em cada bairro da cidade deles há pelo menos um prédio de moradia popular. Seja em Hamsptead ou Notting Hill (Vila Nova Conceição ou Chácara Flora paulistanas). Perceba, não é uma estação de metrô num bairro elegante. É um prédio com GENTE morando. O horror – como será que o pessoal diferenciado consegue viver em paz com tantas ameaças iminentes?

O Metrô tem um correio elegante onde pessoas se deixam mensagens que são publicadas no Metrô News. “Você, que estava na linha vermelha às 11h e desceu correndo na Estação Mile End, de vestido vermelho. Você é uma gata. Tem jeito? Ass.: Chinesinho de terno azul royal”. É tipo isso.

Os velhinhos (80 anos idade média) poderiam estar em casa assistindo aos inúmeros programas de tragédia e miséria humana, mas estão todos nos pubs, bebendo suas pints e festejando a vida com os colegas aposentados.

Os professores das Universidades públicas defendem a entrada de imigrantes africanos no país. “Se eles conseguiram atravessar o mar, ultrapassar o canal da mancha escondidos dentro de um contêiner francês, eles são um sucesso e vão desempenhar qualquer função com motivação e determinação como poucos”.

Almoçam no parque e pra eles isso que é um baita luxo. Há mulheres muçulmanas hipsters, vestem burca e all star. No meu bairro, tem 1 shopping e 78 parques.

Bicicleta é vida e não coisa de hipster/esquerdista. Prefeito anda de ônibus e pedala (“romântico e populista”). As vias da cidade tiveram as velocidades máximas limitadas – 20 km/h em algumas regiões. Pretende-se diminuir acidentes no asfalto e melhorar o fluxo. Indústria da multa? Sempre haverá uns poucos pouco iluminados achando que sim, é um caça níquel.

Eles podem ser bem mal educados e estúpidos às vezes, mas nunca, jamais, vão entrar no vagão do metrô antes de alguém sair.

Se misturam. No trem, ao meu lado direito uma mulher de burca completa, do lado esquerdo uma mina de micro-saia, na frente um indiano, no meio de cerca de outros vinte grupos étnicos, todos devidamente caracterizados, todos em apenas um vagão. Se fosse na minha cidade, aquele vagão seria confundido com algum bloco seguindo para o carnaval, mas não, é o dia a dia em Londres.

Me considerava aberta, acostumada com multiculturas, com mistura de verdade, me achava uma pessoa sem preconceitos, sem receios e pensamentos provincianos.

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