Eu, 34 anos, forasteira e nada resolvida

Não sei direito como isso aconteceu, mas cheguei aos 34.

Na minha última consulta ao pediatra, há dois anos, ele, que me viu nascer, perguntou sobre (eu, euzinha) ter filhos, que eu ainda tinha “uns anos” pela frente. Oi? “Mas eu só tenho trinta e dois, gente”. Ou seja, “então ainda devo ter mais uns 3 anos para não pensar sobre isso”.

Ultimamente tô tendo que pensar sobre isso. Devo ter, quiçá, mais um ano? Mas estou vivendo um turbilhão de coisas que não comporta outra variável, ainda mais da categoria “filho”. Tenho que me encontrar profissionalmente e pelo menos começar a construir algo bacana.

Com a cidadania italiana (a síria estamos deixando para depois), que deve ser uma realidade em poucos meses, já posso ter um trabalho. Mas o processo de entrar no mercado de trabalho demora, ainda mais nessa condição meio que de forasteira. Vamos supor, no fim do ano estou empregada, aí terei 35 e posso pensar em variáveis do tipo “descendentes”, isso se os óvulos-tudo assim permitirem.

Bom, aí começo um trabalho novo e já fico grávida? Estranho. Sempre idealizei um filho nascendo de um desastroso acidente fruto do amor entre duas pessoas descuidadas e seguras de si, não do esforço urgente e deliberado de se aproveitar bons óvulos + um frutífero momento profissional.

De qualquer forma, quando tiver um filho eu quero estar com a minha família. Dois anos na Europa deve estar de bom tamanho, aí volto pra minha terra. Ou não, e se eu tiver um filho aqui e não quiser criá-lo entre as grades e as demasiadas seguranças de São Paulo, onde parquinho é privado e a criança fica entre o condomínio e o shopping center e, nos intervalos, na cadeirinha do carro? Ei, eu vou ter que ter um carro? Ainda existe Elba ou Lada Niva?

Talvez uma opção seja uma casinha de vila, mas e a segurança? Meu sonho é ficar igual a essas mães “destrambelhadas” francesas, que enfiam duas crianças na bici (às vezes, no patinete) e vão que vão charmosamente pedalando no meio da Rue de Rivoli, com todos os seus rebentos dependurados, cabelos ao vento, despenteadas e despreocupadas (e, evidente, com espaço suficiente para levar a a baguete debaixo do braço).

Mas aqui tem terrorismo. No Brasil não tem terrorismo, né? Muito mais seguro. Muitos Risos.

A verdade é que não tem nada que pague ter a família por perto, isso sim é essencial. Muito embora, tenho que dizer, o tempo no Skype/Whatsapp com eles (família) é tão mais prazeroso e cheio de interesse do que normalmente ao vivo no dia a dia, quando mal falamos um com o outro por acharmos que estar fisicamente por perto é o mesmo que estar conectado.

Tirando quando a minha mãe faz baciada de esfiha e todos os seis esperando ansiosamente a próxima fornada, com um vinho “reservado” chileno nas respectivas taças, falando abobrinhas, pérolas e deliciosas groselhas. Aí a conexão rola espontaneamente. Esfihas conectam pessoas.

Pensando bem, o mundo já está superpovoado, falta comida, crianças passam fome e são carentes de afeto. Por que haveria eu de colocar mais gente no mundo? Seria eu um ser especial que deveria espalhar meus maravilhosos genes por aí? Que gesto egoísta. Sempre achei que egoísmo era o problema do mundo.

Talvez adotar uma criança. Aí os problemas biológicos ficam resolvidos e desencano do meu fatídico prazo para engravidar. Uma minoria eu quero, assim posso fazer alguma justiça ou ao menos achar que estou fazendo alguma.

Se bem que legal mesmo seria uma pessoinha com o nosso jeito e olhar. Ou talvez não. Vai que puxa minhas idiossincrasias.

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